Na tarde da última segunda-feira (18), o real ultrapassou o peso argentino, tornando-se a moeda emergente com pior performance em 2024. O dólar, usado como parâmetro, acumulava até por volta das 16h de ontem uma valorização de 10,54% frente à moeda brasileira esse ano. Mais para o fim do dia, contudo, a diferença para o peso argentino diminuiu e o real fechou praticamente empatado com a moeda dos “hermanos”, ambas caindo 10,48% no ano.

Segundo a análise de Roberto Dumas, economista e professor do Insper, o indicador é preocupante, mas não necessariamente significa que a economia brasileira está pior que a argentina.

“Não quer dizer exatamente que a Argentina esteja melhor que o Brasil, longe disso. Mas, na margem, em termos incrementais, a Argentina está indo no caminho correto, enquanto o Brasil não está atendendo às expectativas dos agentes econômicos após a implementação do Arcabouço Fiscal. As expectativas inflacionárias estão desancoradas desde a última votação do Copom, onde houve uma divisão de votos entre os colegiados. Atualmente, a desancoragem está em cerca de 32% para 2024. Os agentes esperavam uma inflação de 3%, que seria a meta, mas agora a expectativa subiu para 3,96%, e para 2025, há uma desancoragem de 23%”, explica o especialista.

Desvalorização do Real: Causas e Consequências

Hoje, o dólar se valorizou frente ao real mesmo caindo no restante do mundo. O DXY, que mede a força da moeda dos EUA frente a outras de países desenvolvidos, recuou quase 0,2%, em um dia de menor aversão ao risco no exterior, com as bolsas americanas subindo.

perspectiva de juros mais altos nos Estados Unidos é a principal causa do enfraquecimento do real. A política monetária dos EUA tem exercido papel significativo no câmbio, com taxas de juros altas atraindo recursos para o país e valorizando o dólar.

“Com uma gastança sem precedente, com o governo sem reconhecer que há um descontrole fiscal , sem nenhum esforço real para cortar gastos e impedir que a dívida cresça, é com é iminência de uma mudança que tem tudo para ser ideológica no BC, a única alternativa para conter o avanço do dólar seria uma aumento forte da Taxa Selic em 0.5%, ou, uma Plano a toque de caixa para cortar gastos na ordem de 1/1.5% do PIB ou R$150 bi”, explica Vandyck Silveira, especialista e PhD em economia.

“Junto com o apoio do governo para que os gastos obrigados, leia-se com pessoal , educação , saúde , bolsa família, previdência e BPC sejam todos desvinculados do crescimento do PIB e do salário mínimo, com somente o repasse do IPCA. Sem uma medida real e mensurável no curto prazo , spent é mesmo uma paulada na taxa de juros. Vale lembrar que só a desvalorização do real em si , já vai gerar uma pressão inflacionária. Petróleo e derivados, Gêneros alimentares que são commodities, Frete, Aço, Tudo isso vai sofrer pressão”, finaliza Silveira.

Problemas Internos Impactam o Real

O real vem perdendo força mundialmente de forma sucessiva. Questões internas, como a elevação do risco Brasil e a desancoragem fiscal, aumentam o temor de que as contas públicas brasileiras se deteriorarão. Isso gera a percepção de maior risco ao investir no país, minguando o fluxo estrangeiro.

Roberto Dumas explica que a mudança do Arcabouço Fiscal e o não cumprimento do déficit zero prometido para 2024 é outro ponto importante. Vale lembrar que o governo já alterou a meta para 2025, indicando que o equilíbrio das contas públicas só deve ocorrer no final do atual governo, ou no início do próximo. Esses fatores contribuem para a desvalorização do real mais do que a do peso argentino.

“Há um ‘fogo amigo’ dentro do governo, com figuras como Gleisi Hoffmann, Rui Costa e Jaques Wagner se opondo a medidas de austeridade fiscal. A recente MP do PIS/COFINS gerou descontentamento, e os ataques contra Campos Neto complicam ainda mais a situação”, afirma Dumas.

“Há dificuldades em desvincular despesas do salário mínimo e da Receita Corrente Líquida, levando a um equilíbrio fiscal primário somente no final do governo. O presidente Lula inicialmente prometeu alcançar superávit ou equilíbrio por meio de aumento de receita e corte de juros, mas agora fala em cortar apenas despesas desnecessárias, sem mexer na vinculação do salário mínimo ao BPC, saúde e educação. Isso pode resultar em um shutdown”, declara o economista e professor do Insper.

Comparação com a Argentina

Quando levamos o contexto acima, podemos comparar-lo com o cenário argentino. Roberto Dumas explica que no caso do país visinho, embora a situação ainda seja ruim, houve melhorias na margem.

“O país atingiu superávit primário, abandonou os congelamentos de preços, depreciou o câmbio e encerrou a relação promíscua entre o Tesouro e o Banco Central. Com a depreciação cambial, espera-se um aumento nas exportações. Portanto, a Argentina está pior que o Brasil, mas está melhorando mais rápido”, diz o economista.

Em suma, o FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê uma melhoria nas taxas de juros reais na Argentina, enquanto no Brasil, a inflação elevada diminui a atratividade dos papéis brasileiros. Isso explica a aproximação do real com a divisa argentina.

Desempenho das Moedas Emergentes em 2024

Brasil (USDBRL): -10,54%

Argentina (USDARS): -10,485%

Turquia (USDTRY): -10,12%

México (USDMXN): -8,502%

Tailândia (USDTHB): -6,956%

Coreia do Sul (USDKRW): -6,521%

Indonésia (USDIDR): -5,676%

Colômbia (USDCOP): -4,876%

Chile (USDCLP): -5,738%

Hungria (USDHUF): -5,776%

FONTE: https://bmcnews.com.br/2024/06/18/real-ultrapassa-peso-argentino-e-se-torna-pior-moeda-entre-emergentes-em-2024-entenda/

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